quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Um poema de Miguel de Cervantes



Pra Ti me Volto, Alto Senhor

Tradução de José Bento

Pra Ti me volto, alto Senhor, que alçaste,
à custa do teu sangue e tua vida,
a mísera de Adão inicial caída,
e, onde ele nos perdeu, nos recup’raste.
A Ti, Pastor bendito, que buscaste
das cem ovelhazinhas a perdida
e, achando-a plo lobo perseguida,
sobre teus ombros santos a deitaste.
Pra Ti me volto na aflição amarga
e a Ti cabe, Senhor, o dar-me ajuda,
pois sou cordeira de teu aprisco ausente:
temo que na corrida curta ou larga,
quando a meu mal teu favor não acuda,
me há-de alcançar esta infernal serpente.

in Breve Antologia da Poesia Cristã Universal (leia online ou faça o download gratuito AQUI).

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A sua Internet é livre? Livre mesmo? Conheça este documentário


Freenet? é um documentário colaborativo que promove a reflexão sobre o real estado e o futuro das liberdades na Internet. Privacidade, liberdade de expressão, democracia, são apenas alguns dos temas tratados em perspectivas diversas do exercício dos direitos humanos na rede. Tudo tratado em uma produção audiovisual que contará com a participação dos maiores interessados – os internautas.
O corte final ainda não está pronto, mas a equipe já está liberando edições de algumas entrevistas de pesquisa no vídeo “Inclusão Digital?“, abaixo. O melhor: pode também copiar, compartilhar, remixar, porque está licenciado em CC-BY!
trailer e mais informações sobre o projeto podem ser encontrados no site oficial do documentário, http://freenetfilm.org/. Se quiser colaborar com vídeos ou qualquer conteúdo para o documentário, é só postar diretamente no mural da página do Freenet? no Facebook, aqui:https://www.facebook.com/FreenetFilm.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Um e-reader que custa 10 euros





Txtr apresentou na Frankfurt Book Fair o The Beagle, um e-ink que espera vender a… 10 euros. Sim, bastante barato graças a uma parceria com operadoras móveis que o vão vender a baixo custo em pacotes especializados.

Trata-se de um ereader e-ink de ecrã de 5 polegadas e 128 gramas.
Conheça-o no vídeo abaixo.


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Cristofobia - Pouco denunciada, a opressão violenta das minorias cristãs nos países muçulmanos é um problema cada vez mais grave


SANGUE DERRAMADO Cristãos coptas, do Egito, carregam uma imagem de Jesus Cristo manchada de sangue, em ato contra a violência de extremistas islâmicos  (Foto: Asmaa Waguih/Reuters)




Ayaan Hirsi Ali, de 42 anos, nasceu de uma família muçulmana na Somália e emigrou para a Holanda, onde foi parlamentar. Produziu o filme Submissão (2004), sobre a repressão às mulheres no mundo islâmico. É pesquisadora do American Enterprise Institute
Ouvimos falar com frequência de muçulmanos como vítimas de abuso no Ocidente e dos manifestantes da Primavera Árabe que lutam contra a tirania. Outra guerra completamente diferente está em curso – uma batalha ignorada, que tem custado milhares de vidas. Cristãos estão sendo mortos no mundo islâmico por causa de sua religião. É um genocídio crescente que deveria provocar um alarme em todo o mundo.
O retrato dos muçulmanos como vítimas ou heróis é, na melhor das hipóteses, parcialmente verdadeiro. Nos últimos anos, a opressão violenta das minorias cristãs tornou-se a norma em países de maioria islâmica, da África Ocidental ao Oriente Médio e do sul da Ásia à Oceania. Em alguns países, o próprio governo e seus agentes queimam igrejas e prendem fiéis. Em outros, grupos rebeldes e justiceiros resolvem o problema com as próprias mãos, assassinando cristãos e expulsando-os de regiões em que suas raízes remontam a séculos.
A mensagem

Para o Ocidente

 A cristofobia gera muita violência, mas é menos discutida
do que a islamofobia

Para os agressores 
O problema deve ser enfrentado com pressões diplomáticas, econômicas e comerciais
  
A reticência da mídia em relação ao assunto tem várias origens. Uma pode ser o medo de provocar mais violência. Outra é, provavelmente, a influência de grupos de lobby, como a Organização da Cooperação Islâmica – uma espécie de Nações Unidas do islamismo, com sede na Arábia Saudita – e o Conselho para Relações Americano-Islâmicas. Na última década, essas e outras entidades similares foram consideravelmente bem-sucedidas em persuadir importantes figuras públicas e jornalistas do Ocidente a achar que todo e qualquer exemplo entendido como discriminação anti-islâmica é expressão de um transtorno chamado “islamofobia” – um termo cujo objetivo é extrair a mesma reprovação moral da xenofobia ou da homofobia.
DOR Centenas de cristãos egípcios velam as vítimas de um ataque  à bomba contra uma igreja em Alexandria,  em janeiro de 2011, que deixou 23 mortos  (Foto: Cai Yang/Xinhua Press/Corbis)
Uma avaliação imparcial de eventos recentes leva à conclusão de que a dimensão e a gravidade da islamofobia não são nada em comparação com a cristofobia sangrenta que atravessa atualmente países de maioria muçulmana de uma ponta do globo à outra. A conspiração silenciosa que cerca essa violenta expressão de intolerância religiosa precisa parar. Nada menos que o destino do cristianismo no mundo islâmico – e, em última instância, de todas as minorias religiosas nessa região – está em jogo.
Por causa de leis contra blasfêmia a assassinatos brutais, bombardeios, mutilações e incêndios em lugares sagrados, os cristãos de muitos países vivem com medo. Na Nigéria, muitos sofrem todas essas formas de perseguição. O país tem a maior minoria cristã (40%) em proporção ao número de habitantes (170 milhões) entre todos os países de maioria islâmica. Há anos, muçulmanos e cristãos vivem à beira de uma guerra civil. A Nigéria é o recordista em número de cristãos mortos em ataques violentos nos últimos anos (leia mais abaixo). A mais nova organização radical é o grupo Boko Haram, que significa “educação ocidental é sacrilégio” e tem como objetivo estabelecer a lei islâmica (charia) em toda a Nigéria. Com esse propósito, afirma que matará todos os cristãos do país.

Só em janeiro, o Boko Haram foi responsável por 54 mortes. Em 2011, seus membros mataram ao menos 510 pessoas e queimaram ou destruíram mais de 350 igrejas em dez Estados da região norte, de maioria muçulmana. Eles usam armas, bombas de gasolina e até facões, gritando “Allahu akbar” (“Deus é grande”) enquanto atacam cidadãos inocentes. Até agora, têm se concentrado em matar clérigos, políticos, estudantes, policiais e soldados cristãos, assim como líderes muçulmanos que condenam suas atitudes.

A cristofobia que infesta o Sudão assume uma forma diferente. O governo autoritário do norte, muçulmano sunita, atormenta há décadas as minorias cristãs e animistas do sul. O que muitas vezes é descrito como guerra civil é, na prática, perseguição constante do governo a minorias religiosas. Essa prática culminou no vergonhoso genocídio de Darfur. O presidente muçulmano do Sudão, Omar al-Bashir, foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional por três acusações de genocídio, mas a violência não terminou. A euforia dos cristãos pela semi-independência que Bashir concedeu ao Sudão do Sul, em julho do ano passado, já passou. No Estado do Cordofão do Sul, eles ainda estão sujeitos a bombardeios aéreos, assassinatos, sequestros de crianças e outras atrocidades. A ONU afirma que entre 53 mil e 75 mil civis inocentes foram deslocados de suas casas.
TENSÃO Cristãos, sudaneses do sul comemoram sua independência do Sudão, de maioria muçulmana, em 2011. A religião é um dos motivos para o conflito que perdura entre os dois países   (Foto: Thomas Mukoya/Reuters)
Os dois tipos de perseguição – realizados por grupos extragovernamentais ou por agentes do Estado – aconteceram simultaneamente no Egito pós-Primavera Árabe. Em 9 de outubro do ano passado, na região de Maspero, no Cairo, cristãos coptas marcharam em protesto contra uma onda de ataques muçulmanos – incêndios em igrejas, estupros, mutilações e assassinatos – que se seguiu à derrubada da ditadura de Hosni Mubarak. Os coptas representam cerca de 10% dos 83 milhões de egípcios. Durante o ato, as forças de segurança avançaram contra a multidão com seus caminhões e atiraram nos manifestantes, matando 24 pessoas e ferindo mais de 300. No fim do ano, mais de 200 mil coptas já haviam fugido de suas casas diante da expectativa de mais ataques. Com os muçulmanos no poder após as eleições legislativas, os temores parecem justificados.
O Egito não é o único país árabe que parece empenhado em acabar com a minoria cristã. Desde 2003, mais de 900 cristãos iraquianos (a maioria deles assírios) foram mortos por terroristas somente em Bagdá, e 70 igrejas foram queimadas. Milhares deixaram o país por causa da violência. A consequência foi a queda do número de cristãos para menos de 500 mil pessoas, metade da população registrada há dez anos. A Agência Assíria Internacional de Notícias, compreensivelmente, descreve a situação atual como um “genocídio incipiente ou limpeza étnica dos assírios no Iraque”.
O mapa da intolerância (Foto: AP (2) e Khalid Mohammed/AP)

Os 2,8 milhões de cristãos que moram no Paquistão representam apenas 1,4% da população de mais de 190 milhões. Como membros de um grupo tão pequeno, vivem com medo constante não só de terroristas islâmicos, mas também das leis draconianas do Paquistão contra a blasfêmia. Há o famoso caso de uma cristã condenada à morte por supostamente insultar o profeta Maomé. Quando a pressão internacional convenceu o governador do Punjab, Salman Taseer, a tentar encontrar uma forma de libertá-la, ele foi morto por seu segurança, em janeiro de 2011. O guarda-costas foi considerado herói pela maioria dos clérigos muçulmanos preeminentes. Embora tenha sido condenado à morte no fim do ano passado, o juiz que impôs a sentença vive escondido, temendo por sua vida.

Casos como esse não são raros no Paquistão. As leis contra a blasfêmia são comumente usadas por muçulmanos criminosos e intolerantes para perseguir minorias religiosas. O ato de simplesmente declarar crença na Santíssima Trindade é considerado blasfêmia, pois contradiz as principais doutrinas teológicas islâmicas. Quando um grupo cristão é suspeito de desrespeitar essas leis, as consequências podem ser brutais. É só perguntar aos membros da entidade assistencial cristã World Vision. Seus escritórios foram atacados em 2010 por dez homens armados com granadas. Seis pessoas morreram e quatro ficaram feridas. Um grupo muçulmano militante assumiu a responsabilidade pelo ataque, sob a justificativa de que a World Vision estava tentando subverter o islã – na verdade, estava ajudando os sobreviventes de um grande terremoto.

Nem mesmo a Indonésia, muitas vezes retratada como o país de maioria muçulmana mais tolerante, democrático e moderno do mundo, está imune às ondas de cristofobia. Segundo dados divulgados pelo jornal americano The Christian Post, o número de incidentes violentos cometidos contra minorias religiosas (7% da população, dos quais a maioria é cristã) aumentou quase 40% entre 2010 e 2011.

A litania de sofrimentos pode ser ampliada. No Irã, dezenas de cristãos foram presos por ousar fazer cultos fora do sistema de igrejas sancionado pelo governo. A Arábia Saudita merece ser colocada numa categoria própria. Apesar de mais de 1 milhão de cristãos morarem no país como trabalhadores estrangeiros, igrejas e até a prática privada de oração cristã são proibidas; para impor essas restrições totalitárias, a polícia religiosa frequentemente invade casas de cristãos e os acusa de blasfêmia em tribunais onde o testemunho deles tem menos importância jurídica que o de um muçulmano. Mesmo na Etiópia, onde os cristãos são maioria, igrejas incendiadas por membros da minoria muçulmana tornaram-se um problema grave.

Deveria ficar claro, a partir desse catálogo de atrocidades, que a violência contra os cristãos é um problema importante e pouco denunciado. Não, a violência não é planejada centralmente ou coordenada por alguma agência islâmica internacional. Nesse sentido, a guerra mundial contra os cristãos não é nem um pouco uma guerra tradicional. É uma expressão espontânea de uma animosidade anticristã por parte dos muçulmanos que transcende cultura, região e etnia.

Nina Shea, diretora do Centro pela Liberdade Religiosa do Instituto Hudson, de Washington, disse numa entrevista para a revista Newsweek que as minorias cristãs em muitos países de maioria muçulmana “perderam a proteção de suas sociedades”. Isso é especialmente verdade em países com movimentos islâmicos radicais em ascensão. Nesses lugares, justiceiros muitas vezes sentem que podem agir com impunidade, e a falta de ação do governo frequentemente comprova isso. A antiga ideia dos turcos otomanos de que não muçulmanos em sociedades muçulmanas merecem proteção (ainda que como cidadãos de segunda classe) praticamente desapareceu em grandes porções do mundo islâmico. O resultado é derramamento de sangue e opressão.

Vamos, por favor, estabelecer prioridades. Sim, governos ocidentais devem proteger minorias islâmicas da intolerância. E é claro que devemos nos certificar de que eles possam cultuar, viver e trabalhar livremente e sem medo. A proteção da liberdade de consciência e expressão distingue sociedades livres das não livres. Mas também precisamos manter a perspectiva em relação à escala e à gravidade da intolerância. Desenhos, filmes e textos são uma coisa; facas, armas e granadas são outra totalmente diferente.

Sobre o que o Ocidente pode fazer para ajudar as minorias religiosas em sociedades de maioria muçulmana, minha resposta é: precisamos começar a usar os bilhões de dólares doados para ajuda aos países agressores como poder de barganha. E há ainda o comércio e os investimentos. Além da pressão diplomática, as doações e relações comerciais podem e devem depender do compromisso com o respeito à liberdade de consciência e ao culto para todos os cidadãos. Em vez de acreditar em histórias exageradas de islamofobia ocidental, é hora de tomar uma posição real contra a cristofobia que contamina o mundo muçulmano. A tolerância é para todos – exceto para os intolerantes.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O limite das Patentes - Por que é preciso inovar na própria Lei


Criadas para incentivar a inovação, elas se tornaram um campo de batalhas bilionárias no setor de tecnologia. A disputa entre Apple e Samsung mostra que é preciso inovar na própria lei
Marcelo Osakabe e Marcelo Moura - Revista Época 
A empresa coreana de tecnologia Samsung foi condenada a pagar à americana Apple, no dia 25 de agosto, a maior indenização por infração de patentes da história: US$ 1,052 bilhão. A corte de San José, na Califórnia, Estados Unidos, julgou que aparelhos da Samsung se apropriam de seis invenções registradas pela Apple. Ainda cabe apelação. Um dia antes, um tribunal de Seul, na Coreia do Sul, impediu a Apple, acusada de violar patentes da Samsung, de vender iPads e iPhones no país. As brigas judiciais nos Estados Unidos e na Coreia são apenas duas, em mais de 50, travadas atualmente pelas duas empresas em ao menos dez países. Líderes dos segmentos de tablets e celulares, elas disputam um mercado avaliado em US$ 240 bilhões. Gastar alguns milhões em ações judiciais, para barrar a concorrência, se tornou uma onda crescente no setor de tecnologia da informação. De acordo com a consultoria Price WaterhouseCoopers, o número de decisões judiciais envolvendo patentes cresceu 383%, entre os períodos de 1995 a 2000 e de 2006 a 2010, enquanto litígios nas demais atividades cresceram a metade.

"É normal haver disputas em torno de inovações fundamentais", disse a ÉPOCA Francis Gurry, presidente da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Ompi). "Isso ocorreu com a indústria química no final do século XIX." O crescimento das disputas judiciais envolvendo patentes no mercado de tecnologia é, porém, sintoma de transformações recentes. No fim dos anos 1980, a briga digital se dava em torno do software. Expressão original numa linguagem padronizada, o software não é protegido por meio de patentes, mas pelo direito autoral, como os livros. É uma proteção forte, que não exige registro e dura até 70 anos (leia o quadro na página 74). As maiores disputas se davam, então, em cima de acusações de cópia ou pirataria. Um exemplo: no final dos anos 1980, a Apple acusou a Microsoft de piratear, no Windows, a interface gráfica dos computadores Lisa e Macintosh e perdeu. Outro: na mesma época, a Microsoft acusou a brasileira Prológica de piratear seu sistema MS-DOS e venceu. Foram decisões que tiveram efeitos profundos sobre as perdedoras. A Prológica sumiu do mapa. A Apple só se reergueu mais de dez anos depois, quando o fundador, Steve Jobs, voltou à empresa e protagonizou uma onda de inovações com iMac, iPod, iPhone e iPad. Tais produtos redesenharam o panorama do consumo digital, e, em agosto, a Apple se tornou a empresa mais valiosa da história. Por integrar hardware, software e a prestação de serviços, eles só podem ser protegidos por meio de patentes, mecanismo mais fraco que o direito autoral -uma patente dura 20 anos e exige registro público. Como consequência, as maiores batalhas jurídicas do mundo digital hoje se dão em torno das patentes. A disputa entre Apple e Samsung é um exemplo disso.

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Patentes de tecnologia oferecem pouco ou nenhum valor além de se defender dos concorrentes

99 Richard Posner, juiz do Tribunal de Apelações de Chicago (EUA)

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Os fundamentos das leis de patentes foram estabelecidos em 1474 em Veneza. O inventor deveria registrar uma descrição detalhada de sua criação. Em troca, o Estado protegeria o monopólio da exploração comercial do invento por tempo determinado. Era uma forma de conciliar o interesse do público por novos inventos baratos a incentivos para o inventor. Desde então, os objetivos das patentes pouco mudaram. O prazo de exploração comercial exclusiva deve ser longo o bastante para o inventor pagar suas pesquisas, com um lucro que compense o risco. Depois, outras empresas podem aprimorar o invento e reduzir preços. Patentes favorecem o inventor e, ao mesmo tempo, o bem comum.

No veloz e cambiante mundo digital, porém, não faltam críticos delas. O mais eloquente tem sido o juiz Richard Posner, da Corte de Apelações em Chicago, nos Estados Unidos. Ele afirma que a atual guerra de patentes se tornou um desperdício de tempo e dinheiro. Posner arquivou em junho um processo em que a Apple acusava a Motorola de violar suas patentes. Segundo ele, não estava claro se a Motorola imitara nem se a Apple perdera algo com a eventual imitação. "Patentes de tecnologia frequentemente oferecem pouco ou nenhum valor além de se defender dos concorrentes", afirmou Posner. "Servem para uma empresa impor custos e outros fardos processuais a suas adversárias." Os críticos das patentes no mundo digital apontam os seguintes problemas:

Depois de 20 anos, quando acaba o monopólio de exploração, a invenção em geral está obsoleta. Segundo eles, o tempo de proteção é excessivo e subestima a capacidade da indústria de recuperar seus investimentos. O custo de desenvolvimento de produtos digitais costuma ser pago em menos de cinco anos. E uma situação diferente da enfrentada pelo setor farmacêutico, que leva dez anos nos testes e nas certificações de um medicamento antes de poder vendê-lo.

Num mundo de inovações voláteis, os critérios para conceder registro a uma patente são difusos e mal aplicados. Um exemplo: em 2009, a Amazon conseguiu patentear não um produto ou processo, mas uma ideia: o One Click, forma de comprar com um único clique, quando os dados do cliente já estão cadastrados. Ideias, contudo, não deveriam ser passíveis de registro. As leis de propriedade intelectual protegem apenas suas expressões.

Outra constatação: o mesmo invento pode ser patenteado por duas empresas - ou então inovações desimportantes e variações da mesma ideia. Em 2005, a Apple registrou a forma de destravar o aparelho deslizando o dedo sobre a tela. Desde 2002, a rival sueca Neonode detinha patente semelhante. Segundo a consultoria M-Cam, 30% das patentes nos Estados Unidos são redundantes.

Os críticos constatam, enfim, que os tribunais tomam decisões diferentes para questões iguais, apesar de as leis de propriedade intelectual serem uniformes e regidas por tratados internacionais. A Samsung processou a Apple por copiar uma tecnologia de transmissão sem fio. Na Europa, perdeu. Na Coreia, venceu.

"O sistema de patentes falha em seus próprios termos", afirmam o doutor em Direito Michael J. Meurer e o professor de economia James Bessen, no livro Patent failure: how judges, bureaucrats and lawyers put innovators at risk (numa tradução livre, Erro patente: como juízes, burocratas e advogados põem os inovadores em risco). "Inúmeras patentes com limites incertos são concedidas", afirma Bessen."São abstratas, triviais e possivelmente invalidas." Ele diz que, no setor de tecnologia, o custo de registrar, renovar e defender uma patente supera o lucro de sua exploração comercial. A recuperação do gasto com patentes é, portanto, buscada não no mercado, mas na Justiça. O extremo da judicialização é conhecido como "troll de patentes"- empresa cuja atividade é comprar registros e processar fabricantes. Um dos principais trolls, a Intellectual Ventures, detém 35 mil registros. Bessen diz que os processos movidos por trolls custaram aos EUA, em 2011, US$ 29 bilhões. A quantia equivale a 10% do investimento do país em pesquisa e desenvolvimento.

Os mais radicais defendem a extinção do sistema de patentes para a indústria digital. É o caso dos professores de Direito Intelectual Kal Raustiala e Chris Springman. Eles afirmam que o mercado é capaz de reconhecer e privilegiar, por si só, as empresas inovadoras. No livro The knockoff economy: how imitation sparks innovation (algo como A economia das cópias: como imitação desperta inovação ), contam casos como o fundo de investimentos Vanguard Group, criado em 1976. O Vanguard foi pioneiro em oferecer investimentos por setor da economia. Rivais copiaram a estratégia. Até hoje, o Vanguard é o líder do mercado.

Derrubar as patentes é, contudo, uma ideia utópica e descabida, sem apoio entre as empresas de tecnologia. Para o juiz Posner, existem iniciativas mais simples para evitar a guerra de patentes. Invenções essenciais poderiam ser liberadas compulsoriamente, mediante pagamento de licença ao inventor. Bastaria, também, desapropriar as patentes sem uso para evitar a ação dos trolls. De todo modo, como o setor requer inovação constante, sempre será preciso recompensar aqueles que investem em pesquisa. Se as leis atuais geram proteções custosas ou ineficazes, talvez seja preciso recorrer ao exemplo dos venezianos do século XV que, diante de uma era de transformações sem precedentes como o Renascimento, foram capazes de inovar e criar uma forma de incentivo aos inventores que perdura há séculos. -

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A batalha da Califórnia na guerra das patentes

A Apple acusou a Samsung de infringir sete patentes e foi acusada de copiar outras cinco. A Justiça da Califórnia decidiu pela inocência da Apple e pela culpa da Samsung condenada a pagar US$ 1.052 bilhão a rival. Abaixo o veredicto para cada acusação

A APPLE COPIOU?

Racionamento

Sistema de gestão de tarefas para economizar carga

da bateria

NÃO COPIOU

Atalho na foto

Atalho para mudar da câmera para a galeria de imagens, num toque

Não copiou

Envio de fotos

Deslizar o dedo para os lados para tirar fotos e enviar por e-mail

NÃO COPIOU

Multitarefas

Ações como tocar música continuam enquanto a tela mostra outra tarefa

NÃO COPIOU

transmissão

Sistema de compactação e transmissão remota de arquivos

NÃO COPIOU

A SAMSUNG COPIOU?

Ícones

Os ícones quadrados de cantos arredondados

COPIOU

Visual

Tela emoldurada por um retângulo de bordas arredondadas

COPIOU

Gesto de pinça

Abrir dois dedos, encostados na tela, para ampliar a imagem

COPIOU

um toque

Ampliar imagens ao tocar na tela com um dedo, uma vez

COPIOU

Efeito elástico

No fim de uma, rolagem, a página vai além de seu limite e volta

COPIOU