sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Espionagem: como as agências de inteligência de EUA e Inglaterra coletam dados?



Documentos divulgados pelo ex-funcionário da inteligência americana Edward Snowden sugerem que o governo americano realizou operações de vigilância em massa em todo o mundo - incluindo em seus países aliados. As acusações fizeram com que o comitê de inteligência do Senado prometesse rever o modo como a maior organização de inteligência do país - a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) - realiza as operações.

Saiba o que se sabe até agora, de acordo com os documentos "vazados", dos principais métodos utilizados pela agência.

1. Acesso a informações de empresas de tecnologia

Em junho de 2013, os documentos divulgados pelo jornal Washington Post revelaram como a NSA têm acesso a diversas grandes empresas de tecnologia pela "porta dos fundos".


A agência tinha acesso aos servidores de nove empresas de internet, incluindo Facebook,GoogleMicrosoft e Yahoo, para monitorar comunicações online como parte de um programa de vigilância chamado Prism.

Os documentos afirmam que o projeto deu à NSA - e ao serviço de inteligência britânico GCHQ - acesso a e-mails, chats, informações armazenadas, chamadas de voz, transferências de arquivos e dados de redes sociais de milhares de pessoas.

No entanto, as empresas negaram que tivessem oferecido "acesso direto" a seus servidores para a agência.
Alguns especialistas também questionaram o poder real do Prism.


O professor de perícia digital Peter Sommer disse à BBC que o acesso pode ser mais semelhante a uma "portinha de cachorro" do que a uma "porta dos fundos" - de modo que as agências de inteligências pudessem acessar os servidores somente para coletar inteligência a respeito de um alvo específico.

2. Extração de dados de cabos de fibra óptica

Ainda no mês de junho, mais documentos do serviço de inteligência britânico publicados pelo jornal The Guardian revelaram que a Grã-Bretanha extraía dados de cabos de fibra óptica que transportam comunicações globais e compartilhava as informações com a NSA.

Os documentos diziam que o GCHQ tinha acesso a 200 cabos de fibra óptica, o que dava ao órgão a capacidade de monitorar até 600 milhões de comunicações todos os dias.


As informações sobre o uso de internet e telefone eram supostamente armazenadas por até 30 dias para que fossem filtradas e analisadas.

GCHQ se recusou a comentar as acusações, mas disse que sua obediência à lei era "escrupulosa".

Em outubro, o jornal italiano L'Espresso publicou acusações de que aGCHQ e a NSA alvejaram três cabos submarinos que terminavam na Itália, para interceptar dados comerciais e militares.

Os três cabos, na Sicília, se chamavam SeaMeWe3, SeaMeWe4 e Flag Europe-Asia.

3. Escuta em telefones

Em outubro, a mídia alemã afirmou que os Estados Unidosgrampearam o telefone da chanceler alemã Angela Merkel por mais de uma década - e que a vigilância só acabou há alguns meses.

A revista Der Spiegel, também citando documentos revelados por Edward Snowden, sugeriu que os Estados Unidos tinham acesso ao telefone de Merkel desde 2002.

Os documentos citados pela revista dizem que uma unidade de escuta ficava dentro da Embaixada americana em Berlim - e que operações semelhantes aconteciam em outras 80 cidades pelo mundo.

O jornalista investigativo Duncan Campbell explica em seu blog como áreas com janelas fechadas, visíveis do lado de fora dos prédios oficiais poderiam na verdade ter "janelas de rádio". Estas janelas externas - feitas de um material que não conduz eletricidade - permite que sinais de rádio passem e cheguem até os equipamentos de coleta e análise dentro dos edifícios.

Der Spiegel disse que a natureza do monitoramento do celular de Merkel não estava clara nos documentos divulgados.

No entanto, relatos posteriores afirmaram que dois dos telefones da chanceler haviam sido grampeados - um telefone não criptografado usado para ocasiões informais e um aparelho criptografado, usado para o trabalho.

E

De acordo com especialistas em segurança, os sistemas padrão de criptografia dos telefones celulares podem ser vulneráveis porque seus sistemas para "embaralhar os dados" são - em termos de software - separados dos programas utilizados para criar mensagens.

Por isso, é possível que uma operação de escuta se posicione entre o software que faz a mensagem e o sistema de criptografia em cada uma das pontas da conversa - e tenha acesso à informação antes que ela seja criptografada ou depois que é reordenada.

A criptografia de ponta a ponta, que agora é adotada por muitos, preenche esta lacuna ao fazer com que o programa de mensagens faça o "embaralhamento" diretamente. Além disso, muitos destes sistemas compartilham dados em redes fechadas, então muitas mensagens não passam pela internet e só são reordenadas quando chegam ao seu destinatário.

Além do telefone de Merkel, há acusações de que a NSA teria monitorado milhares de chamadas telefônicas de cidadãos alemães e franceses, além de e-mails e chamadas dos presidentes do México e do Brasil.

Reportagens do Guardian também afirmaram que a NSA monitorou os telefones de 35 líderes mundiais depois de ter recebido seus números de telefone de outro oficial do governo americano. Edward Snowden também foi a fonte dos documentos que revelaram estas informações.

4. Espionagem dirigida

Ainda em junho, a revista alemã Der Spiegel afirmou que a NSA teria espionado também os escritórios da União Europeia (UE) nos Estados Unidos e na Europa.


A revista disse ter visto documentos revelados por Snowden mostrando que o país teria acesso a redes de computadores internas da União Europeia em Washington e do escritório da ONU em Nova York.

Os documentos também sugeriam que a NSA realizou uma operação de escuta em um edifício em Bruxelas, onde funcionam as sedes do Conselho de Ministros da UE e o Conselho Europeu.

Pouco depois, em julho, o Guardian disse - citando como fonte outros documentos "vazados"- que um total de 38 embaixadas e missões foram "alvos" de operações de espionagem americanas.

Os países alvejados incluíam a França, a Itália e a Grécia, assim como outros aliados não-europeus dos Estados Unidos como Japão, Coreia do Sul e Índia.

Embaixadas e missões em Nova York e Washington também estariam sob vigilância.

Os documentos, segundo o jornal, detalharam "uma variedade extraordinária" de métodos de espionagem usados para interceptar mensagens. Elas incluíam grampos, antenas especializadas e escutas.