sábado, 29 de dezembro de 2012

Uma Biblioteca Virtual sobre Tráfico Humano




Dentro de nossa visão de denunciar e promover a informação e discussão pública sobre o Tráfico de Pessoas, um dos crimes mais negligenciados pelos governos e órgãos competentes, no Brasil e no mundo, criamos no site Scribd uma pasta reunindo materiais gratuitos (livros, relatórios, estudos, etc.) sobre o tema do Tráfico Humano. Reunimos materiais em três línguas: português, espanhol e inglês. Você pode fazer o download dos documentos, ou lê-los online.

Acesse a Biblioteca Tráfico Humano: http://pt.scribd.com/collections/3928801/Biblioteca-Trafico-Humano

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Os Melhores Poemas de Natal em ebook gratuito



A Poesia do Natal
Antologia

Poetas Evangélicos de ontem e de hoje
escrevem sobre o Natal de Jesus Cristo


Já desde inícios do século XX que o Natal, onde a cristandade comemora o nascimento epifânico de Jesus Cristo, vem perdendo seu caráter sagrado ou religioso para ganhar paulatinamente as cores baratas do consumismo e da secularização, esvaziamento este algumas vezes configurado na personagem ‘Papai Noel’, e também em toda a ritualística de glutonarias e bebedeira que a cada ano se repete.

Em tal clima de crescente alienação, é com imenso prazer que ofertamos ao leitor esta antologia de poemas natalinos. Os poemas aqui coligidos são um chamado ao louvor e à adoração, e à contemplação do verdadeiro espírito do Natal. E também, em alguns de seus melhores momentos, à reflexão crítica sobre este viés secularista que as comemorações natalinas têm assumido, mesmo entre os ditos cristãos.

Estão aqui presentes os nomes exponenciais de nossa poesia evangélica, nomes tais como Mário Barreto França, Myrtes Mathias, Gióia Júnior, Stela Câmara Dubois, Joanyr de Oliveira e outros, ao lado de excelentes poetas cuja obra tem sido olvidada, caso de um Jorge Buarque Lira, um Benjamin Moraes Filho, um Gilberto Maia, entre diversos outros bons exemplos.

Esta obra não objetiva lucro financeiro algum, circulando apenas como e-book gratuito, não podendo ser comercializada de nenhuma maneira. Pois nosso propósito é o mais nobre, trazer à luz versos que andavam dispersos e submersos em periódicos de difícil acesso e livros raros e fora de catálogo, livros esses que provavelmente jamais serão reimpressos, condenando assim a grande poesia de muitos autores evangélicos ao virtual esquecimento. Não! A rica poesia de inspiração cristã desses bardos merece ser divulgada.
Eis então aqui esta nova e necessária antologia, uma homenagem ao nosso Senhor e uma celebração ao seu Natal, um presente aos leitores de todos os credos e religiões, e um merecido tributo aos nossos queridospoetas de Deus.

Leia, divulgue e compartilhe!

Sammis Reachers, organizador

Para ler o livro online ou fazer o download (213 págs., em pdf) no site Scribd, CLIQUE AQUI.

Para fazer o download pelo 4Shared, CLIQUE AQUI.

Lista dos autores antologiados, por ordem de entrada: José Bezerra Duarte - Jorge Buarque Lira - Assis Cabral - Gilberto Maia - Bolivar Bandeira - Stela Câmara Dubois - Jonathas Braga - Manoel da Silveira Porto Filho - Alfredo Mignac - Isnard Rocha - Albérico de Souza - Mário Barreto França - Benjamin Moraes Filho - José Silva - Lourival Garcia Terra - Thiago Rocha - José Britto Barros - Gióia Júnior - Daria Gláucia - Joanyr de Oliveira - Myrtes Mathias - Ivan Espíndola de Ávila - Rosa Jurandir Braz - Silvino Netto - Pérrima de Moraes Cláudio - João Tomaz Parreira - Eliúde Marques - Gilberto Celeti - Filemon Francisco Martins - Israel Belo de Azevedo - Geremias do Couto -Edgar Silva Santos - Brissos Lino - Natanael Santos - Josué Ebenézer - Rui Miguel Duarte - George Gonsalves - Antonio Costta

Caso tenha dificuldade em realizar o download, solicite-me o envio por e-mail:sammisreachers@ig.com.br

domingo, 18 de novembro de 2012

Como digitalizar livros físicos - Tutorial e video aula

Fabiane Lima
Desde o surgimento dos livros digitais, há uma turma por aí que torce o nariz para eles, aparentemente sem motivo. Se antes não havia dispositivo que pudesse imitar a textura sem brilho do papel, hoje as vantagens de se ler a série A Song of Ice and Fire em formato digital superam muito as possíveis vantagens que poderiam haver em lê-la no livro físico, por exemplo. Daí se conclui que a turma supracitada tem algo mais parecido com uma parafilia, querendo sentir o toque e o cheiro do papel, e ver toda a sua coleção pegando poeira e sendo tomada por traças numa bela estante estrategicamente posicionada para impressionar as visitas. Mas tara é tara, e cada um com as suas.
O assunto deste texto, porém, é outro. Apesar de a disponibilidade de livros digitais hoje ser grande, podendo-se achar quase qualquer título nas Amazons da vida, nem tudo são flores. Aquele “quase” ali inclui livros acadêmicos, livros lançados apenas no Brasil (sejamos sinceros: nenhum serviço brasileiro de livros digitais se compara minimamente com a Amazon), edições antigas, e uma série de outras possibilidades que impedem leitores adeptos deste novo formato de conseguir ler em seus aparelhinhos. No Brasil, a demanda por livros digitais é ainda muito pequena, seja por falta de quem compre ou pela falta de eReaders, o que desencoraja editoras a digitalizar seu acervo.
E o que fazer quando você se dá conta de que há em sua casa uma estante cheia de títulos acumulados ao longo da vida e que jamais lerá, justamente por não estarem em formato digital? E que alguns daqueles títulos você realmente precisa ler, uma vez que se tratam de literatura básica para uma futura vida acadêmica que você vem planejando, e para a qual a editora não está afim de contribuir? O que fazer? Como proceder?
Digitalizar seu acervo (para uso pessoal, logicamente) não é uma tarefa fácil. Em primeiro lugar, é preciso que três coisas fiquem claras:
  • Paciência: digitalizar um livro não é um trabalho divertido. Ver as horas passando no relógio e perceber que nem 20% do tomo foi escaneado e você perdeu todo um sábado em que poderia estar pedalando lá fora pode ser incrivelmente desanimador.
  • Desapego: seu livro, que custou não menos que duas refeições no Outback, pode ficar em estado lastimável se você não tem acesso a uma belezinha dessas. Pense que pode sim valer a pena e que, no final, o que conta é o conteúdo. Depois você pode pegar dois volumes daquela Barsa que não usa mais e tentar des-desengonçá-lo.
  • Uso pessoal: é recomendável não distribuir sua cópia digital por aí. Quando se compra um livro, automaticamente se concorda com termos que impedem a reprografia e redistribuição.
Se você chegou até aqui e ainda tem intenção de fazer a conversão de seus livros, seguem abaixo algumas dicas:

Digitalizando

  1. Divida o livro em trechos e faça a tarefa aos poucos. Pode levar muito tempo, principalmente se o scanner for emprestado (meu caso), e o livro, muito grande.
  2. Use uma resolução de média para alta (de 200 dpi pra cima), e não esqueça de caprichar no contraste antes de digitalizar. Isso ajuda a diminuir a quantidade de erros dos softwares de OCR (que são MUITOS). Em caso de esquecimento, é possível fazer isso depois, com Photoshop ou GIMP.
  3. Tenha um livro grosso e pesado, ou mais, para manter o livro a ser digitalizado no lugar. É bastante comum que a parte interna da brochura saia fora de foco por não estar bem posicionada no vidro do scanner e o OCR não conseguir ler. Sim, isso pode estragar seu livro. Eu avisei.
  4. Nomeie os arquivos de modo a formar uma sequência facilmente identificável.

“OCRzando”

  1. O software de OCR que utilizei foi o OCRtools, que custa 5 obamas na App Store e faz o trabalho de forma bastante decente. Talvez ele acentue palavras na forma portuguesa (como em “referéncias” ao invés de “referências”), mas isso pode ser corrigido mais adiante. Existem muitas opções gratuitas caso você faça parte dos 90% restantes da população usuária de computadores. Para Linux tem o Tesseract.
  2. No OCRtools é possível criar uma gaveta, adicionar todas as imagens ali e mandar processar. Leva um bom tempo, mas bem menos do que eu imaginava. Acredito que a maioria dos softwares funcione mais ou menos do mesmo modo.

Formatando

  1. Essa parte exige paciência: copie e cole os trechos processados pelo OCR – ou não, dependendo da saída do software que você escolheu – em um documento de texto. Faça buscas para acabar com as quebras de linha originais, e remova trechos de caracteres alienígenas que por acaso o OCR tenha inserido ao longo do texto. Usei o TextWrangler, que tem um bom sistema de busca e substituição.
  2. Cole o texto num processador de textos mais parrudo, com corretor ortográfico. É bom ficar de olho e, por mais que tome algum tempo, corrigir palavra por palavra. Esse cuidado evita que o corretor ortográfico mude nomes próprios ou até mesmo corrija errado.
A partir daqui você pode seguir por dois caminhos distintos. Um dá pouco trabalho. O outro eu segui porque não havia me tocado antes do modo mais simples e porque queria experimentar, visto que ele dá mais possibilidades de estilizar o documento final. São eles:

“eBookzando”: o modo mais simples

  1. Estilize o documento para formatar títulos, subtítulos, notas e tudo o mais e exporte o documento em PDF. Acrescente as imagens no meio do texto, se ouver, e não esqueça da capa na primeira página.
  2. Faça dowload do Calibre – que nós já resenhamos aqui.
  3. Coverta o livro em ePub (ou no formato de sua preferência/necessidade), tomando cuidado com os títulos para a correta geração automática do sumário (opção “Detecção de estrutura”), e pronto. Está feito.

“eBookzando”: modo nightmare (nem tanto)

  1. Jogue o texto novamente no TextWrangler ou em algum editor de texto melhor que o Bloco de Notas. Pode ser o Notepad++.
  2. Coloque tags HTML apropriadas em cada parágrafo, bloco de citação, títulos, subtítulos, etc, da mesma forma que faria com a ferramenta de estilos do Word. Acrescente as imagens, se houver, incluindo a capa. Faça bom uso das tags de título para a correta geração do sumário. Salve como um arquivo HTML normal.
  3. Você pode ver como vai ficando a formatação do livro com o navegador. Faça alterações no CSS se achar necessário, tendo em mente as limitações do seu leitor digital.
  4. Se seu livro tiver mais de um arquivo (como imagens), salve tudo em uma pasta, comprima em um zip e mande pro Calibre para fazer a conversão.
  5. Tome cuidado com a opção “Detecção de estrutura”. Revise todas as opções antes de exportar e pronto.
Difícil? Um pouco. Trabalhoso? Bastante. Vale a pena? Depende. Da importância do livro e de quanto tempo se tem disponível. Por enquanto eu só completei cerca de 20% do livro, mas já joguei esse pedaço no Kobo. Quando a coragem e a necessidade chegarem novamente, eu termino o trabalho.
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Aproveitamos para postar aqui no blog uma video-aula encontrada no Youtube, sobre o tema. Vale lembrar que não buscamos de maneira alguma incentivar a pirataria, mas sim a garantia de disponibilidade da Informação e do Conhecimento. Há muitos livros já em domínio público (para quem não sabe, no Brasil um livro entra em domínio público 70 anos após a morte de seu autor. Em muitos países este prazo varia de 50 a 70 anos, em média), livros evangélicos ou seculares, e que ainda não foram digitalizados. Seria de grande valia a digitalização de tais livros, e sua disponibilização gratuita na internet.

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Na questão dos scanners, uma boa opção, que tem as vantagens de não danificar o livro, portabilidade e praticidade, são os chamados scanners de mão. Há modelos idealizados especialmente para escanear livros e revistas. 


A média de preço de um aparelho desses é de R$ 250,00, mas encontrei até por R$ 180,00. Eles não possuem fios (são alimentados por pilhas recarregáveis), e gravam em cartões de memória, e muitos já vem com software OCR (para transformar as imagens em texto). Quanto mais caro, mais recursos o aparelhinho pode trazer.


terça-feira, 13 de novembro de 2012

Como obter acesso a artigos científicos sem pertencer a uma instituição acadêmica



Moreno Barros
Pra quem não sabe, eu trabalho em umas das bibliotecas da UFRJ e a minha principal função é garantir o acesso à produção científica nacional e internacional aos alunos dos programas de graduação e pós-graduação do Centro de Tecnologia da universidade, seja por meio de treinamentos de bases de dados, serviço de referência, levantamento bibliográfico ou simplesmente encontrando para eles artigos difíceis de achar, mas que são importantes para as suas pesquisas.
Na minha tese de doutorado eu falo um pouco sobre a questão do custo do conhecimento, explicando sob a ótica de bibliotecário como é problemático os trabalho produzidos por pesquisadores, cientistas e seus pares, financiados em grande parte pelos contribuintes (por meio de recursos públicos, editais de fomento, bolsas de pesquisa e orçamentos das universidades e instituições de pesquisa), permanecerem acessíveis somente mediante pagamento avulso ou contratos de assinaturas junto às editoras responsáveis pela publicação desses trabalhos. Um duplo pagamento por parte dos contribuintes: na comissão da pesquisa e no acesso aos resultados. [Em um segundo momento, eu falo do porre que é esse frenesi em torno da contabilização da ciência (do ponto de vista macroeconômico os contribuintes não financiam nada) e como isso pode contaminar a ciência em sua essência. Maiores detalhes, quando a tese ficar pronta.]
Pra quem não sabe (2) aproximadamente 1,5 milhão de artigos originais são publicados todos os anos, veiculados em periódicos pertencentes a um pequeno número de grandes editoras comerciais científicas e acadêmicas com fins lucrativos, entre elas Elsevier, Springer, Wiley e Taylor and Francis.
Pra quem não sabe (3) o Brasil gasta em torno de R$120 milhões anuais para garantir que centenas instituições do país acessem mais de 30 mil revistas científicas por meio do Portal de Periódicos da Capes, modelo de consórcio de bibliotecas único no mundo, inteiramente financiado pelo governo nacional. (Palmas pro Brasil, mas ressaltando que o Portal de Periódicos da Capes foi criado justamente sob a perspectiva de que seria demasiadamente caro atualizar os acervos com a compra de periódicos impressos para cada uma das universidades do sistema superior de ensino federal.)
Sempre que alguém não vinculado a instituições associadas ao consórcio do Portal de Periódicos da Capes tenta acessar um artigo de periódico online, o acesso ao resumo do texto é geralmente livre. Sem esse vínculo, a leitura de um único artigo na íntegra publicado por um dos periódicos da Elsevier custa 31,50 dólares (aproximadamente 65 reais). A Springer cobra 34,95 dólares (aproximadamente 72 reais) e Wiley-Blackwell, 42 dólares (aproximadamente 87 reais).
Então as grandes questões são: como obter acesso aos artigos científicos na íntegra, sem ter que pagar questionáveis 60,70,80 reais por algumas páginas, sem pertencer a uma instituição acadêmica (desvinculada do Portal Capes)? Como ter acesso aos artigos originais na íntegra de maneira legal, sem infringir os direitos das editoras e autores?

Partindo da minha experiência diária lidando com esse tipo de demanda, quero deixar 10 dicas à vocês, pesquisadores desse meu Brasil varonil:

1) procure uma bibliotecária, preferencialmente de uma biblioteca universitária ou instituição de pesquisa e converse com ela sobre a possibilidade de obter acesso aos artigos na íntegra, mesmo não tendo vínculo com a instituição consultada. Alguns artigos são realmente muito fáceis de conseguir, desde que a biblioteca tenha o acesso via Portal Capes. Você pode levar um pen drive para copiar os arquivos dos artigos ou solicitar que eles sejam enviados ao seu email.
2) Quase todos os pesquisadores estão autorizados a colocar em seus sites pessoais ou institucionais uma versão em PDF dos textos que foram aceitos para publicação em periódicos. O caminho mais curto para encontrar a produção de um determinado autor é via Google Acadêmico. Então vá ao scholar.google.com e procure o título do artigo, o nome do autor ou o tópico de pesquisa.
Por exemplo, aqui está a página para um artigo publicado por um grupo de biólogos da UFRJ, no periódico Evolution, v.53, n.5, 1999. “Does Cosmopolitanism Result from Overconservative Systematics? A Case Study Using the Marine Sponge Chondrilla nucula“:
O primeiro resultado é o artigo procurado. Notem que na sinopse há a indicação de que ele está vinculado à base de dados JSTOR (notem também que já de cara há um link para o pdf, mas vamos fingir, para este exemplo, que ele não estivesse ali). Abaixo da sinopse está:
Citado por X Artigos relacionados Todas as Y versões

Clicando no link do título propriamente, você é levado à página do editor>periódico e verá um link para download do artigo na íntegra por módicos 14 dólares.
Mas se clicar no link “Todas as Y versões“, você verá todas as versões indexadas pelo Google. No nosso exemplo, a segunda versão é um PDF do artigo na íntegra que está hospedado no site do departamento da UFRJ o qual estão vinculados os autores do artigo.
3) em alguns casos, usar o parâmetro “filetype:pdf” no Google Acadêmico também ajuda. Vejam esse exemplo para um busca sobre pré-sal e águas profundas. Basta substituir o assunto ou incluir o nome do autor, mantendo o parâmetro de tipo de arquivo.
4) Se você precisa de muitos artigos sobre determinado tópico, é melhor seguir os passos anteriores. Mas se você só precisa de um ou poucos artigos e for capaz de encontrar um meio de contato com o autor, você pode pedir diretamente à ele. Geralmente os autores são solícitos e gostam de ter seus trabalhos reconhecidos. Basta você se identificar como pesquisador, do Brasil (ajuda sempre) e solicitar uma versão digital.
Para encontrar os emails dos autores (melhor forma de contato) busque pelo nome deles, associados às suas instituições de origem (universidades, departamentos, centros de pesquisa). Geralmente os resumos dos artigos contêm essas informações, mesmo em bases de acesso restrito.
5) Em muitas áreas é comum o uso de servidores pré-publicação (pre-print), que oferece acesso na íntegra aos artigos que já foram aceitos pelos periódicos, mas que ainda aguardam os trâmites de publicação. Um dos mais conhecidos é o Arxiv.org (pronunciasse ar-cai-ve mesmo) que têm grande concentração na área de física, mas engloba outras áreas do conhecimento também.
Recentemente no Facebook, Tiago Murakami solicitou esse artigo, bloqueado pela sua editora, acessível somente mediante pagamento. Mas omesmo artigo está disponível na íntegra no Arxiv, provavelmente meses antes de ter saído na versão impressa/digital do periódico.
Outros servidores de preprints que valem menção são viXranature precedingssciencepaper china e philica.
Não confundir os servidores pre-print com os servidores open acces (como o PLOS ONE, por exemplo). Os preprints são em geral de artigos aceitos para publicação em periódicos mediante avaliação por pares. Funcionam como um espelho grátis dos periódicos de acesso restrito e pago.
6) algumas bases de dados e de periódicos oferecem a opção de “trial”,JSTOR sendo um bom exemplo. Se você se registrar pode ler até 3 artigos na íntegra online, na tela do computador (sem opção de download grátis). Você pode armazenar até 3 artigos e mantê-los em um arquivo pessoal por 14 dias. Após esse período, você pode pesquisar por três novos artigos.
7) as bibliotecas ainda possuem coleções impressas dos periódicos. Isso significa que se você descobrir precisamente a edição do periódico onde foi publicado o artigo e descobrir qual biblioteca possui o exemplar impresso, você pode solicitar uma cópia simples (xerox). Isso vale especialmente para revistas antigas, algumas delas com suas edições retrospectivas não digitalizadas, não encontráveis na internet. As bibliotecas possuem sistemas de intercâmbio entre si, facilitando a troca de materiais mesmo entre diferentes e distantes cidades.
No Brasil, você pode consultar o Catálogo Coletivo Nacional, que não tem uma interface legal, mas que é um instrumento ultra útil pra saber quais bibliotecas, separadas por estados, possuem a revista que você procura.
Basta incluir o título da revista no campo de busca, clicar no “executar busca”, aparecendo os registros clicar em “visualizar consulta”, selecionar o título, clicar em “visualizar registros” e percorrer a lista das bibliotecas que possuem tal revista em suas coleções. Repare que a lista contêm exatamente a indicação de quais edições a biblioteca possui (a biblioteca pode ter a coleção integral ou parcialmente).
Feito isso, você pode ir até a biblioteca fisicamente ou entrar em contato por telefone ou email. Se você estiver em outra cidade e a burocracia não permitir a cópia ou scaneamento do artigo e envio por email, você pode solicitar à bibliotecária o envio por Correios, pela modalidade “COMUT”. Ela vai te explicar melhor os procedimentos.
8] nós bibliotecários possuímos fóruns privados de trocas de artigos. Eu participo e gerencio alguns fóruns de intercâmbio de artigos, que não são divulgados publicamente para evitar problemas com as editoras. É certo que não baixamos volumes gigantescos de artigos para imprimí-los e vendê-los em uma banquinha na esquina, mas os contratos editoriais são tão rígidos que não podemos nos expor muito, mesmo querendo somente o melhor e o mais rápido meio de fazer o artigo chegar até nossos usuários.
Eu sou feliz por ter um acesso VPN a uma das grandes universidades americanas, o que me permite uma gama maior de revistas do que o Portal Capes oferece. E conto com a ajuda sensível e inestimável dos colegas bibliotecários de outras instituições, no Brasil e no exterior.
Por isso, considere sempre falar com um bibliotecário quando empacar em suas pesquisas acadêmicas. A gente salva vidas. É o que eu faço, todos os dias :)
9) Se por acaso você estudou em alguma universidade americana ou européia, verifique a possibilidade de conseguir acesso aos recursos das bibliotecas e bases de dados por meio das associações de alumni. Converse com a bibliotecária de lá.
10) se você estuda ou tem vínculo com alguma universidade ou instituição de ensino, público ou privada, procure saber com a bibliotecária como você pode obter o acesso remoto ao Portal Capes, que te garante acesso aos artigos na íntegra em seu computador pessoal, sem precisar se deslocar até a biblioteca.
Quem tiver qualquer dúvida, pode falar comigo. Quem tiver qualquer solicitação de artigo, procure a bibliotecária mais próxima!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Kirby Ferguson: Abraçando o Remix - Assista a este vídeo



Nada é original, diz Kirby Ferguson, criador de 'Tudo é um Remix'. De Bob Dylan a Steve Jobs, ele afirma que nossos criadores mais celebrados pegam emprestado, se apropriam e transformam.

Outros videos do TED legendados: http://www.ted.com/translate/languages/pt-br?page=2

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Um poema de Miguel de Cervantes



Pra Ti me Volto, Alto Senhor

Tradução de José Bento

Pra Ti me volto, alto Senhor, que alçaste,
à custa do teu sangue e tua vida,
a mísera de Adão inicial caída,
e, onde ele nos perdeu, nos recup’raste.
A Ti, Pastor bendito, que buscaste
das cem ovelhazinhas a perdida
e, achando-a plo lobo perseguida,
sobre teus ombros santos a deitaste.
Pra Ti me volto na aflição amarga
e a Ti cabe, Senhor, o dar-me ajuda,
pois sou cordeira de teu aprisco ausente:
temo que na corrida curta ou larga,
quando a meu mal teu favor não acuda,
me há-de alcançar esta infernal serpente.

in Breve Antologia da Poesia Cristã Universal (leia online ou faça o download gratuito AQUI).

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A sua Internet é livre? Livre mesmo? Conheça este documentário


Freenet? é um documentário colaborativo que promove a reflexão sobre o real estado e o futuro das liberdades na Internet. Privacidade, liberdade de expressão, democracia, são apenas alguns dos temas tratados em perspectivas diversas do exercício dos direitos humanos na rede. Tudo tratado em uma produção audiovisual que contará com a participação dos maiores interessados – os internautas.
O corte final ainda não está pronto, mas a equipe já está liberando edições de algumas entrevistas de pesquisa no vídeo “Inclusão Digital?“, abaixo. O melhor: pode também copiar, compartilhar, remixar, porque está licenciado em CC-BY!
trailer e mais informações sobre o projeto podem ser encontrados no site oficial do documentário, http://freenetfilm.org/. Se quiser colaborar com vídeos ou qualquer conteúdo para o documentário, é só postar diretamente no mural da página do Freenet? no Facebook, aqui:https://www.facebook.com/FreenetFilm.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Um e-reader que custa 10 euros





Txtr apresentou na Frankfurt Book Fair o The Beagle, um e-ink que espera vender a… 10 euros. Sim, bastante barato graças a uma parceria com operadoras móveis que o vão vender a baixo custo em pacotes especializados.

Trata-se de um ereader e-ink de ecrã de 5 polegadas e 128 gramas.
Conheça-o no vídeo abaixo.


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Cristofobia - Pouco denunciada, a opressão violenta das minorias cristãs nos países muçulmanos é um problema cada vez mais grave


SANGUE DERRAMADO Cristãos coptas, do Egito, carregam uma imagem de Jesus Cristo manchada de sangue, em ato contra a violência de extremistas islâmicos  (Foto: Asmaa Waguih/Reuters)




Ayaan Hirsi Ali, de 42 anos, nasceu de uma família muçulmana na Somália e emigrou para a Holanda, onde foi parlamentar. Produziu o filme Submissão (2004), sobre a repressão às mulheres no mundo islâmico. É pesquisadora do American Enterprise Institute
Ouvimos falar com frequência de muçulmanos como vítimas de abuso no Ocidente e dos manifestantes da Primavera Árabe que lutam contra a tirania. Outra guerra completamente diferente está em curso – uma batalha ignorada, que tem custado milhares de vidas. Cristãos estão sendo mortos no mundo islâmico por causa de sua religião. É um genocídio crescente que deveria provocar um alarme em todo o mundo.
O retrato dos muçulmanos como vítimas ou heróis é, na melhor das hipóteses, parcialmente verdadeiro. Nos últimos anos, a opressão violenta das minorias cristãs tornou-se a norma em países de maioria islâmica, da África Ocidental ao Oriente Médio e do sul da Ásia à Oceania. Em alguns países, o próprio governo e seus agentes queimam igrejas e prendem fiéis. Em outros, grupos rebeldes e justiceiros resolvem o problema com as próprias mãos, assassinando cristãos e expulsando-os de regiões em que suas raízes remontam a séculos.
A mensagem

Para o Ocidente

 A cristofobia gera muita violência, mas é menos discutida
do que a islamofobia

Para os agressores 
O problema deve ser enfrentado com pressões diplomáticas, econômicas e comerciais
  
A reticência da mídia em relação ao assunto tem várias origens. Uma pode ser o medo de provocar mais violência. Outra é, provavelmente, a influência de grupos de lobby, como a Organização da Cooperação Islâmica – uma espécie de Nações Unidas do islamismo, com sede na Arábia Saudita – e o Conselho para Relações Americano-Islâmicas. Na última década, essas e outras entidades similares foram consideravelmente bem-sucedidas em persuadir importantes figuras públicas e jornalistas do Ocidente a achar que todo e qualquer exemplo entendido como discriminação anti-islâmica é expressão de um transtorno chamado “islamofobia” – um termo cujo objetivo é extrair a mesma reprovação moral da xenofobia ou da homofobia.
DOR Centenas de cristãos egípcios velam as vítimas de um ataque  à bomba contra uma igreja em Alexandria,  em janeiro de 2011, que deixou 23 mortos  (Foto: Cai Yang/Xinhua Press/Corbis)
Uma avaliação imparcial de eventos recentes leva à conclusão de que a dimensão e a gravidade da islamofobia não são nada em comparação com a cristofobia sangrenta que atravessa atualmente países de maioria muçulmana de uma ponta do globo à outra. A conspiração silenciosa que cerca essa violenta expressão de intolerância religiosa precisa parar. Nada menos que o destino do cristianismo no mundo islâmico – e, em última instância, de todas as minorias religiosas nessa região – está em jogo.
Por causa de leis contra blasfêmia a assassinatos brutais, bombardeios, mutilações e incêndios em lugares sagrados, os cristãos de muitos países vivem com medo. Na Nigéria, muitos sofrem todas essas formas de perseguição. O país tem a maior minoria cristã (40%) em proporção ao número de habitantes (170 milhões) entre todos os países de maioria islâmica. Há anos, muçulmanos e cristãos vivem à beira de uma guerra civil. A Nigéria é o recordista em número de cristãos mortos em ataques violentos nos últimos anos (leia mais abaixo). A mais nova organização radical é o grupo Boko Haram, que significa “educação ocidental é sacrilégio” e tem como objetivo estabelecer a lei islâmica (charia) em toda a Nigéria. Com esse propósito, afirma que matará todos os cristãos do país.

Só em janeiro, o Boko Haram foi responsável por 54 mortes. Em 2011, seus membros mataram ao menos 510 pessoas e queimaram ou destruíram mais de 350 igrejas em dez Estados da região norte, de maioria muçulmana. Eles usam armas, bombas de gasolina e até facões, gritando “Allahu akbar” (“Deus é grande”) enquanto atacam cidadãos inocentes. Até agora, têm se concentrado em matar clérigos, políticos, estudantes, policiais e soldados cristãos, assim como líderes muçulmanos que condenam suas atitudes.

A cristofobia que infesta o Sudão assume uma forma diferente. O governo autoritário do norte, muçulmano sunita, atormenta há décadas as minorias cristãs e animistas do sul. O que muitas vezes é descrito como guerra civil é, na prática, perseguição constante do governo a minorias religiosas. Essa prática culminou no vergonhoso genocídio de Darfur. O presidente muçulmano do Sudão, Omar al-Bashir, foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional por três acusações de genocídio, mas a violência não terminou. A euforia dos cristãos pela semi-independência que Bashir concedeu ao Sudão do Sul, em julho do ano passado, já passou. No Estado do Cordofão do Sul, eles ainda estão sujeitos a bombardeios aéreos, assassinatos, sequestros de crianças e outras atrocidades. A ONU afirma que entre 53 mil e 75 mil civis inocentes foram deslocados de suas casas.
TENSÃO Cristãos, sudaneses do sul comemoram sua independência do Sudão, de maioria muçulmana, em 2011. A religião é um dos motivos para o conflito que perdura entre os dois países   (Foto: Thomas Mukoya/Reuters)
Os dois tipos de perseguição – realizados por grupos extragovernamentais ou por agentes do Estado – aconteceram simultaneamente no Egito pós-Primavera Árabe. Em 9 de outubro do ano passado, na região de Maspero, no Cairo, cristãos coptas marcharam em protesto contra uma onda de ataques muçulmanos – incêndios em igrejas, estupros, mutilações e assassinatos – que se seguiu à derrubada da ditadura de Hosni Mubarak. Os coptas representam cerca de 10% dos 83 milhões de egípcios. Durante o ato, as forças de segurança avançaram contra a multidão com seus caminhões e atiraram nos manifestantes, matando 24 pessoas e ferindo mais de 300. No fim do ano, mais de 200 mil coptas já haviam fugido de suas casas diante da expectativa de mais ataques. Com os muçulmanos no poder após as eleições legislativas, os temores parecem justificados.
O Egito não é o único país árabe que parece empenhado em acabar com a minoria cristã. Desde 2003, mais de 900 cristãos iraquianos (a maioria deles assírios) foram mortos por terroristas somente em Bagdá, e 70 igrejas foram queimadas. Milhares deixaram o país por causa da violência. A consequência foi a queda do número de cristãos para menos de 500 mil pessoas, metade da população registrada há dez anos. A Agência Assíria Internacional de Notícias, compreensivelmente, descreve a situação atual como um “genocídio incipiente ou limpeza étnica dos assírios no Iraque”.
O mapa da intolerância (Foto: AP (2) e Khalid Mohammed/AP)

Os 2,8 milhões de cristãos que moram no Paquistão representam apenas 1,4% da população de mais de 190 milhões. Como membros de um grupo tão pequeno, vivem com medo constante não só de terroristas islâmicos, mas também das leis draconianas do Paquistão contra a blasfêmia. Há o famoso caso de uma cristã condenada à morte por supostamente insultar o profeta Maomé. Quando a pressão internacional convenceu o governador do Punjab, Salman Taseer, a tentar encontrar uma forma de libertá-la, ele foi morto por seu segurança, em janeiro de 2011. O guarda-costas foi considerado herói pela maioria dos clérigos muçulmanos preeminentes. Embora tenha sido condenado à morte no fim do ano passado, o juiz que impôs a sentença vive escondido, temendo por sua vida.

Casos como esse não são raros no Paquistão. As leis contra a blasfêmia são comumente usadas por muçulmanos criminosos e intolerantes para perseguir minorias religiosas. O ato de simplesmente declarar crença na Santíssima Trindade é considerado blasfêmia, pois contradiz as principais doutrinas teológicas islâmicas. Quando um grupo cristão é suspeito de desrespeitar essas leis, as consequências podem ser brutais. É só perguntar aos membros da entidade assistencial cristã World Vision. Seus escritórios foram atacados em 2010 por dez homens armados com granadas. Seis pessoas morreram e quatro ficaram feridas. Um grupo muçulmano militante assumiu a responsabilidade pelo ataque, sob a justificativa de que a World Vision estava tentando subverter o islã – na verdade, estava ajudando os sobreviventes de um grande terremoto.

Nem mesmo a Indonésia, muitas vezes retratada como o país de maioria muçulmana mais tolerante, democrático e moderno do mundo, está imune às ondas de cristofobia. Segundo dados divulgados pelo jornal americano The Christian Post, o número de incidentes violentos cometidos contra minorias religiosas (7% da população, dos quais a maioria é cristã) aumentou quase 40% entre 2010 e 2011.

A litania de sofrimentos pode ser ampliada. No Irã, dezenas de cristãos foram presos por ousar fazer cultos fora do sistema de igrejas sancionado pelo governo. A Arábia Saudita merece ser colocada numa categoria própria. Apesar de mais de 1 milhão de cristãos morarem no país como trabalhadores estrangeiros, igrejas e até a prática privada de oração cristã são proibidas; para impor essas restrições totalitárias, a polícia religiosa frequentemente invade casas de cristãos e os acusa de blasfêmia em tribunais onde o testemunho deles tem menos importância jurídica que o de um muçulmano. Mesmo na Etiópia, onde os cristãos são maioria, igrejas incendiadas por membros da minoria muçulmana tornaram-se um problema grave.

Deveria ficar claro, a partir desse catálogo de atrocidades, que a violência contra os cristãos é um problema importante e pouco denunciado. Não, a violência não é planejada centralmente ou coordenada por alguma agência islâmica internacional. Nesse sentido, a guerra mundial contra os cristãos não é nem um pouco uma guerra tradicional. É uma expressão espontânea de uma animosidade anticristã por parte dos muçulmanos que transcende cultura, região e etnia.

Nina Shea, diretora do Centro pela Liberdade Religiosa do Instituto Hudson, de Washington, disse numa entrevista para a revista Newsweek que as minorias cristãs em muitos países de maioria muçulmana “perderam a proteção de suas sociedades”. Isso é especialmente verdade em países com movimentos islâmicos radicais em ascensão. Nesses lugares, justiceiros muitas vezes sentem que podem agir com impunidade, e a falta de ação do governo frequentemente comprova isso. A antiga ideia dos turcos otomanos de que não muçulmanos em sociedades muçulmanas merecem proteção (ainda que como cidadãos de segunda classe) praticamente desapareceu em grandes porções do mundo islâmico. O resultado é derramamento de sangue e opressão.

Vamos, por favor, estabelecer prioridades. Sim, governos ocidentais devem proteger minorias islâmicas da intolerância. E é claro que devemos nos certificar de que eles possam cultuar, viver e trabalhar livremente e sem medo. A proteção da liberdade de consciência e expressão distingue sociedades livres das não livres. Mas também precisamos manter a perspectiva em relação à escala e à gravidade da intolerância. Desenhos, filmes e textos são uma coisa; facas, armas e granadas são outra totalmente diferente.

Sobre o que o Ocidente pode fazer para ajudar as minorias religiosas em sociedades de maioria muçulmana, minha resposta é: precisamos começar a usar os bilhões de dólares doados para ajuda aos países agressores como poder de barganha. E há ainda o comércio e os investimentos. Além da pressão diplomática, as doações e relações comerciais podem e devem depender do compromisso com o respeito à liberdade de consciência e ao culto para todos os cidadãos. Em vez de acreditar em histórias exageradas de islamofobia ocidental, é hora de tomar uma posição real contra a cristofobia que contamina o mundo muçulmano. A tolerância é para todos – exceto para os intolerantes.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O limite das Patentes - Por que é preciso inovar na própria Lei


Criadas para incentivar a inovação, elas se tornaram um campo de batalhas bilionárias no setor de tecnologia. A disputa entre Apple e Samsung mostra que é preciso inovar na própria lei
Marcelo Osakabe e Marcelo Moura - Revista Época 
A empresa coreana de tecnologia Samsung foi condenada a pagar à americana Apple, no dia 25 de agosto, a maior indenização por infração de patentes da história: US$ 1,052 bilhão. A corte de San José, na Califórnia, Estados Unidos, julgou que aparelhos da Samsung se apropriam de seis invenções registradas pela Apple. Ainda cabe apelação. Um dia antes, um tribunal de Seul, na Coreia do Sul, impediu a Apple, acusada de violar patentes da Samsung, de vender iPads e iPhones no país. As brigas judiciais nos Estados Unidos e na Coreia são apenas duas, em mais de 50, travadas atualmente pelas duas empresas em ao menos dez países. Líderes dos segmentos de tablets e celulares, elas disputam um mercado avaliado em US$ 240 bilhões. Gastar alguns milhões em ações judiciais, para barrar a concorrência, se tornou uma onda crescente no setor de tecnologia da informação. De acordo com a consultoria Price WaterhouseCoopers, o número de decisões judiciais envolvendo patentes cresceu 383%, entre os períodos de 1995 a 2000 e de 2006 a 2010, enquanto litígios nas demais atividades cresceram a metade.

"É normal haver disputas em torno de inovações fundamentais", disse a ÉPOCA Francis Gurry, presidente da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Ompi). "Isso ocorreu com a indústria química no final do século XIX." O crescimento das disputas judiciais envolvendo patentes no mercado de tecnologia é, porém, sintoma de transformações recentes. No fim dos anos 1980, a briga digital se dava em torno do software. Expressão original numa linguagem padronizada, o software não é protegido por meio de patentes, mas pelo direito autoral, como os livros. É uma proteção forte, que não exige registro e dura até 70 anos (leia o quadro na página 74). As maiores disputas se davam, então, em cima de acusações de cópia ou pirataria. Um exemplo: no final dos anos 1980, a Apple acusou a Microsoft de piratear, no Windows, a interface gráfica dos computadores Lisa e Macintosh e perdeu. Outro: na mesma época, a Microsoft acusou a brasileira Prológica de piratear seu sistema MS-DOS e venceu. Foram decisões que tiveram efeitos profundos sobre as perdedoras. A Prológica sumiu do mapa. A Apple só se reergueu mais de dez anos depois, quando o fundador, Steve Jobs, voltou à empresa e protagonizou uma onda de inovações com iMac, iPod, iPhone e iPad. Tais produtos redesenharam o panorama do consumo digital, e, em agosto, a Apple se tornou a empresa mais valiosa da história. Por integrar hardware, software e a prestação de serviços, eles só podem ser protegidos por meio de patentes, mecanismo mais fraco que o direito autoral -uma patente dura 20 anos e exige registro público. Como consequência, as maiores batalhas jurídicas do mundo digital hoje se dão em torno das patentes. A disputa entre Apple e Samsung é um exemplo disso.

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Patentes de tecnologia oferecem pouco ou nenhum valor além de se defender dos concorrentes

99 Richard Posner, juiz do Tribunal de Apelações de Chicago (EUA)

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Os fundamentos das leis de patentes foram estabelecidos em 1474 em Veneza. O inventor deveria registrar uma descrição detalhada de sua criação. Em troca, o Estado protegeria o monopólio da exploração comercial do invento por tempo determinado. Era uma forma de conciliar o interesse do público por novos inventos baratos a incentivos para o inventor. Desde então, os objetivos das patentes pouco mudaram. O prazo de exploração comercial exclusiva deve ser longo o bastante para o inventor pagar suas pesquisas, com um lucro que compense o risco. Depois, outras empresas podem aprimorar o invento e reduzir preços. Patentes favorecem o inventor e, ao mesmo tempo, o bem comum.

No veloz e cambiante mundo digital, porém, não faltam críticos delas. O mais eloquente tem sido o juiz Richard Posner, da Corte de Apelações em Chicago, nos Estados Unidos. Ele afirma que a atual guerra de patentes se tornou um desperdício de tempo e dinheiro. Posner arquivou em junho um processo em que a Apple acusava a Motorola de violar suas patentes. Segundo ele, não estava claro se a Motorola imitara nem se a Apple perdera algo com a eventual imitação. "Patentes de tecnologia frequentemente oferecem pouco ou nenhum valor além de se defender dos concorrentes", afirmou Posner. "Servem para uma empresa impor custos e outros fardos processuais a suas adversárias." Os críticos das patentes no mundo digital apontam os seguintes problemas:

Depois de 20 anos, quando acaba o monopólio de exploração, a invenção em geral está obsoleta. Segundo eles, o tempo de proteção é excessivo e subestima a capacidade da indústria de recuperar seus investimentos. O custo de desenvolvimento de produtos digitais costuma ser pago em menos de cinco anos. E uma situação diferente da enfrentada pelo setor farmacêutico, que leva dez anos nos testes e nas certificações de um medicamento antes de poder vendê-lo.

Num mundo de inovações voláteis, os critérios para conceder registro a uma patente são difusos e mal aplicados. Um exemplo: em 2009, a Amazon conseguiu patentear não um produto ou processo, mas uma ideia: o One Click, forma de comprar com um único clique, quando os dados do cliente já estão cadastrados. Ideias, contudo, não deveriam ser passíveis de registro. As leis de propriedade intelectual protegem apenas suas expressões.

Outra constatação: o mesmo invento pode ser patenteado por duas empresas - ou então inovações desimportantes e variações da mesma ideia. Em 2005, a Apple registrou a forma de destravar o aparelho deslizando o dedo sobre a tela. Desde 2002, a rival sueca Neonode detinha patente semelhante. Segundo a consultoria M-Cam, 30% das patentes nos Estados Unidos são redundantes.

Os críticos constatam, enfim, que os tribunais tomam decisões diferentes para questões iguais, apesar de as leis de propriedade intelectual serem uniformes e regidas por tratados internacionais. A Samsung processou a Apple por copiar uma tecnologia de transmissão sem fio. Na Europa, perdeu. Na Coreia, venceu.

"O sistema de patentes falha em seus próprios termos", afirmam o doutor em Direito Michael J. Meurer e o professor de economia James Bessen, no livro Patent failure: how judges, bureaucrats and lawyers put innovators at risk (numa tradução livre, Erro patente: como juízes, burocratas e advogados põem os inovadores em risco). "Inúmeras patentes com limites incertos são concedidas", afirma Bessen."São abstratas, triviais e possivelmente invalidas." Ele diz que, no setor de tecnologia, o custo de registrar, renovar e defender uma patente supera o lucro de sua exploração comercial. A recuperação do gasto com patentes é, portanto, buscada não no mercado, mas na Justiça. O extremo da judicialização é conhecido como "troll de patentes"- empresa cuja atividade é comprar registros e processar fabricantes. Um dos principais trolls, a Intellectual Ventures, detém 35 mil registros. Bessen diz que os processos movidos por trolls custaram aos EUA, em 2011, US$ 29 bilhões. A quantia equivale a 10% do investimento do país em pesquisa e desenvolvimento.

Os mais radicais defendem a extinção do sistema de patentes para a indústria digital. É o caso dos professores de Direito Intelectual Kal Raustiala e Chris Springman. Eles afirmam que o mercado é capaz de reconhecer e privilegiar, por si só, as empresas inovadoras. No livro The knockoff economy: how imitation sparks innovation (algo como A economia das cópias: como imitação desperta inovação ), contam casos como o fundo de investimentos Vanguard Group, criado em 1976. O Vanguard foi pioneiro em oferecer investimentos por setor da economia. Rivais copiaram a estratégia. Até hoje, o Vanguard é o líder do mercado.

Derrubar as patentes é, contudo, uma ideia utópica e descabida, sem apoio entre as empresas de tecnologia. Para o juiz Posner, existem iniciativas mais simples para evitar a guerra de patentes. Invenções essenciais poderiam ser liberadas compulsoriamente, mediante pagamento de licença ao inventor. Bastaria, também, desapropriar as patentes sem uso para evitar a ação dos trolls. De todo modo, como o setor requer inovação constante, sempre será preciso recompensar aqueles que investem em pesquisa. Se as leis atuais geram proteções custosas ou ineficazes, talvez seja preciso recorrer ao exemplo dos venezianos do século XV que, diante de uma era de transformações sem precedentes como o Renascimento, foram capazes de inovar e criar uma forma de incentivo aos inventores que perdura há séculos. -

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A batalha da Califórnia na guerra das patentes

A Apple acusou a Samsung de infringir sete patentes e foi acusada de copiar outras cinco. A Justiça da Califórnia decidiu pela inocência da Apple e pela culpa da Samsung condenada a pagar US$ 1.052 bilhão a rival. Abaixo o veredicto para cada acusação

A APPLE COPIOU?

Racionamento

Sistema de gestão de tarefas para economizar carga

da bateria

NÃO COPIOU

Atalho na foto

Atalho para mudar da câmera para a galeria de imagens, num toque

Não copiou

Envio de fotos

Deslizar o dedo para os lados para tirar fotos e enviar por e-mail

NÃO COPIOU

Multitarefas

Ações como tocar música continuam enquanto a tela mostra outra tarefa

NÃO COPIOU

transmissão

Sistema de compactação e transmissão remota de arquivos

NÃO COPIOU

A SAMSUNG COPIOU?

Ícones

Os ícones quadrados de cantos arredondados

COPIOU

Visual

Tela emoldurada por um retângulo de bordas arredondadas

COPIOU

Gesto de pinça

Abrir dois dedos, encostados na tela, para ampliar a imagem

COPIOU

um toque

Ampliar imagens ao tocar na tela com um dedo, uma vez

COPIOU

Efeito elástico

No fim de uma, rolagem, a página vai além de seu limite e volta

COPIOU